IA e monitoramento contínuo já permitem que bancos analisem cada transação em tempo real contra riscos regulatórios

O setor financeiro é historicamente um dos mais pressionados por regulação. Além das regras de capital de Basileia, normas de prevenção à lavagem de dinheiro (AML) e legislações de proteção de dados como GDPR, bancos enfrentam fiscalização intensa de bancos centrais e órgãos internacionais. Até pouco tempo, a gestão regulatória seguia um modelo predominantemente reativo: revisões amostrais e auditorias realizadas após a ocorrência dos fatos. Estudos da PwC e da Deloitte apontam que esse modelo não apenas gerava custos crescentes, mas também deixava falhas de detecção, resultando em riscos reputacionais e multas milionárias.

Foi nesse contexto que surgiu o Clari5, criado pela CustomerXPs na Índia. O sistema examina cada transação em tempo real, antes da aprovação, cruzando dados de múltiplos canais — internet banking, cartões, ATMs, mobile. A solução combina inteligência artificial e machine learning para identificar padrões suspeitos, como operações incompatíveis com o perfil do cliente ou tentativas de burlar sanções, conforme estudos publicados no ArXiv e no IJLRP (2021).

Casos documentados pelo Mashreq Bank, nos Emirados Árabes, e pelo Punjab National Bank, na Índia, demonstram reduções expressivas em fraudes digitais e aumentos nas taxas de detecção de operações suspeitas. Segundo a CustomerXPs, o Clari5 já monitora mais de 200 milhões de contas em tempo real. O avanço representa uma mudança de paradigma: a gestão regulatória deixa de ser apenas corretiva e passa a atuar como mecanismo ativo de defesa — antecipando riscos antes que comprometam instituições e clientes.

Essa tendência não é isolada. De acordo com a Deloitte (2024) e o relatório Cost of Compliance da Thomson Reuters, mais de 70% das instituições financeiras já adotam ou planejam adotar RegTechs semelhantes para AML, KYC digital e reporte regulatório automatizado. O recado é claro: em setores de alta regulação, manter controles fragmentados significa vulnerabilidade. O futuro da gestão regulatória no sistema financeiro está no monitoramento contínuo em tempo real — e a disputa agora é transformar essa vigilância em vantagem competitiva.

Mas o desafio não se limita ao setor financeiro. Empresas de diferentes segmentos também enfrentam o peso da complexidade regulatória e precisam migrar de um modelo manual e disperso — em que analistas acessam dezenas de bases diariamente — para um modelo centralizado e inteligente. Ferramentas digitais já permitem acessar diversas bases de dados em um único lugar, acompanhar mudanças legislativas e regulatórias em tempo real e personalizar alertas para que cada equipe receba apenas o que é relevante para seu contexto.

Além de ganhos de eficiência, esse tipo de solução amplia a qualidade da análise. Em vez de informações brutas e dispersas, gestores podem contar com dados contextualizados, que conectam projetos de lei, discursos, agendas de stakeholders e notícias em um único fluxo. A centralização também favorece a gestão integrada, permitindo registrar ações, compartilhar análises e gerar relatórios customizados que sustentam o processo decisório em nível estratégico.

A mensagem é inequívoca: monitorar regulações não é apenas reagir a mudanças. É construir uma visão preditiva que antecipa riscos, identifica oportunidades e fortalece a posição das empresas em ambientes de alta pressão institucional. Ferramentas de monitoramento regulatório representam, portanto, não apenas eficiência, mas capacidade de transformar dados em ação e de sustentar a resiliência organizacional diante de regulações em constante mutação.

📊 Fontes: PwC; Deloitte (2024); ArXiv; IJLRP (2021); Thomson Reuters – Cost of Compliance