O risco regulatório está no volume ou na velocidade de resposta?

O ambiente regulatório brasileiro é, por definição, denso. São milhares de atos normativos produzidos todos os anos, que se somam a mais de 230 eventos regulatórios diários no mundo. Só no Brasil, o custo de conformidade alcança R$ 243,7 bilhões anuais para a indústria, enquanto multas e sanções adicionam mais R$ 150,1 bilhões, segundo a Sondagem Especial da CNI (2024).

A pergunta que emerge desse cenário é direta: como deixar de atuar de forma apenas reativa e transformar o monitoramento em vantagem estratégica?

A resposta começa pela tecnologia. Ferramentas de inteligência artificial já aplicam processamento de linguagem natural (NLP) para rastrear milhares de páginas de Diários Oficiais e identificar relevância regulatória. Modelos de aprendizado de máquina reconhecem padrões em pareceres técnicos, consultas públicas e jurisprudência, permitindo antecipar onde há maior probabilidade de mudança normativa. O salto qualitativo está em sair do simples registro do que foi publicado para atuar antes que o texto normativo exista, garantindo meses de preparação antecipada.

Os ganhos já são mensuráveis. O Relatório de Integridade Global 2024 da EY mostra que mais da metade das empresas utilizam IA em compliance. Entre elas, 40% relatam avanços na coleta e análise de dados de risco, 37% destacam melhorias no monitoramento contínuo e 34% apontam ganhos na classificação e priorização de riscos. Estudos também destacam que a adoção de Big Data, IA e Machine Learning marca uma nova fase do GRC (Governança, Risco e Compliance), ampliando velocidade, abrangência e integração em ambientes regulatórios cada vez mais voláteis (MIT Sloan Management Review Brasil).

No cenário internacional, o mercado de RegTech acompanha essa evolução. Estimado em US$ 16,9 bilhões em 2025, deve alcançar US$ 97,6 bilhões até 2035, com crescimento anual composto de 19,2%, segundo a Future Market Insights (2025). No Brasil, o mercado movimentou cerca de US$ 270 milhões em 2024 e deve atingir US$ 733 milhões até 2029, com CAGR de 22,1%, de acordo com a GlobeNewswire / ResearchAndMarkets (2024). Esses números confirmam: tecnologia regulatória não é mais diferencial — é infraestrutura essencial para competitividade.

A complexidade regulatória não se mede apenas pelo número de normas publicadas, mas pela velocidade com que elas exigem resposta estratégica. O custo anual bilionário da conformidade no Brasil, somado à expansão global do RegTech, mostra que o verdadeiro diferencial competitivo não está em acompanhar volumes, mas em responder com precisão e agilidade.

Fontes: CNI – Sondagem Especial de Custo Regulatório (2024); EY – Global Integrity Report (2024); MIT Sloan Management Review Brasil; Future Market Insights (2025); GlobeNewswire / ResearchAndMarkets (2024).