A intensificação da regulação financeira global: uma nova era de conformidade.

Nas últimas décadas, o setor financeiro global tem enfrentado uma crescente complexidade regulatória, caracterizada por um aumento significativo no volume de normas e atualizações emitidas por autoridades reguladoras. Esta tendência, que se intensificou a partir da crise financeira de 2008, reflete não apenas uma tentativa de fortalecer a estabilidade do sistema financeiro, mas também de responder às transformações tecnológicas, à globalização dos mercados e às novas ameaças emergentes, como os riscos cibernéticos e mudanças climáticas.

Segundo os relatórios anuais Cost of Compliance da Thomson Reuters Regulatory Intelligence, entre 2014 e 2019, o número de normas e atualizações regulatórias no setor financeiro passou de 40.603 para 56.624 por ano. Isso representa um aumento de cerca de 39,5% em apenas seis anos. Em 2020, esse número saltou para aproximadamente 66.000 atualizações, o que equivale a uma média de 257 novas exigências por dia útil, de acordo com estimativas da GRC 20/20 Research. Esse crescimento pode ser atribuído em parte à resposta regulatória à pandemia de COVID-19, que exigiu medidas emergenciais para garantir a resiliência dos mercados.

Nos anos subsequentes, a tendência de intensificação regulatória permaneceu estável, com 64.152 normas emitidas em 2021 e 61.228 em 2022. Estimativas para 2023 indicam cerca de 65.000 atualizações, e para 2024, a projeção é de aproximadamente 70.000 novas normas, conforme análises da MetricStream e G2 Risk Solutions. Esse cenário evidencia que o ritmo regulatório, longe de se estabilizar, deve se acentuar ainda mais nos próximos anos.

O impacto dessa proliferação normativa é profundo. Instituições financeiras de todos os portes precisam investir continuamente em tecnologia, processos e talentos especializados para manter a conformidade com esse ambiente regulatório dinâmico. De acordo com um levantamento da Deloitte (2023), mais de 80% das instituições financeiras globais relataram aumento nos custos relacionados à conformidade nos últimos três anos. Além disso, a International Federation of Accountants (IFAC) destaca que o risco de não conformidade regulatória figura hoje entre os cinco principais desafios estratégicos para conselhos administrativos do setor financeiro.

Essa nova era regulatória exige mais do que respostas pontuais. É necessária uma abordagem estruturada, integrada e orientada por dados para lidar com as obrigações de forma proativa. Ferramentas de RegTech (tecnologia regulatória), soluções de automação de compliance e frameworks robustos de governança, risco e compliance (GRC) emergem como aliados indispensáveis. A adoção de inteligência artificial e aprendizado de máquina para monitoramento contínuo de normas regulatórias é uma tendência crescente entre grandes instituições, conforme apontado pelo World Economic Forum.

Diante desse cenário, os líderes do setor financeiro precisam repensar seus modelos de conformidade, priorizando agilidade, transparência e adaptabilidade. O crescimento exponencial das exigências normativas não é apenas um desafio operacional, mas um fator estratégico que pode impactar diretamente a competitividade e a reputação das organizações. A compreensão profunda das tendências regulatórias e a capacidade de resposta eficiente passam a ser diferenciais cruciais em um mercado cada vez mais regulado, complexo e interconectado.

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