Como a regulamentação do Banco Central impulsionou a expansão das fintechs de crédito no Brasil

A regulamentação promovida pelo Banco Central do Brasil em 2018, por meio da Resolução nº 4.656, representou um divisor de águas para o setor financeiro nacional. Ao reconhecer formalmente as fintechs de crédito, a autoridade monetária não apenas legitimou essas novas instituições como também criou as bases para um ambiente regulatório moderno, seguro e voltado à inovação. Com essa medida, foram instituídas duas novas figuras jurídicas: a Sociedade de Crédito Direto (SCD) e a Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP).

As SCDs passaram a operar de maneira 100% digital, concedendo crédito com recursos próprios e sem a possibilidade de captar depósitos do público, diferentemente dos bancos tradicionais. Já as SEPs, conhecidas como plataformas de peer-to-peer lending, viabilizaram o empréstimo direto entre pessoas físicas, mediado por tecnologia. Ambas as estruturas operam sob supervisão do Banco Central, o que garante maior controle, transparência e proteção aos envolvidos.

Essa inovação regulatória foi decisiva para reduzir barreiras de entrada no mercado financeiro, estimular a concorrência, favorecer a conformidade regulatória (compliance) e atrair investimentos nacionais e estrangeiros. Com o novo marco, fintechs como Cashway, Rebel e Geru conseguiram expandir suas operações, demonstrando a eficácia do ambiente regulado para o florescimento de novos modelos de negócio. A digitalização dos serviços financeiros, aliada à segurança jurídica, tornou o setor mais dinâmico e acessível.

Nos anos seguintes à regulamentação, o número de fintechs licenciadas como SCD ou SEP cresceu de forma consistente. Paralelamente, o volume de crédito concedido por essas instituições avançou significativamente, refletindo a crescente demanda por serviços financeiros mais ágeis, personalizados e inclusivos. A modernização do sistema financeiro brasileiro, nesse contexto, não se limitou ao surgimento de novas empresas: ela também viabilizou maior acesso ao crédito para parcelas da população antes excluídas do sistema bancário tradicional.

O marco de 2018 também abriu caminho para outros avanços estruturais, como a implementação do Open Finance, que promove o compartilhamento de dados entre instituições autorizadas com o consentimento do cliente, e o sistema de pagamentos instantâneos Pix, que revolucionou a forma como os brasileiros realizam transações financeiras. Iniciativas como o sandbox regulatório, criado para testar inovações em um ambiente controlado, reforçam o compromisso do Banco Central com a supervisão inteligente e o estímulo à competitividade.

Hoje, as fintechs de crédito ocupam um papel central no ecossistema financeiro. Mais da metade dessas empresas já atingiu o ponto de equilíbrio financeiro, indicando amadurecimento do setor. O crescimento contínuo dos ativos sob gestão e a consolidação de modelos de negócio inovadores revelam que o Brasil está construindo, de forma sólida, um sistema financeiro mais eficiente, plural e inclusivo.

A transformação iniciada em 2018 vai muito além de uma norma legal. Trata-se de uma reconfiguração estrutural que alia tecnologia, governança e impacto social. Para os profissionais do setor financeiro, essa trajetória exige constante atualização, responsabilidade regulatória e visão estratégica para continuar liderando uma revolução que, ao mesmo tempo, democratiza o acesso ao crédito e fortalece a economia digital do país.

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