Como a Vivo transformou regulação em liderança no 5G

O leilão de 5G realizado pela Anatel em 2021 representou o maior movimento institucional e econômico da história das telecomunicações brasileiras. Com mais de R$ 47 bilhões mobilizados, o certame não apenas distribuiu frequências: ele testou a maturidade regulatória e estratégica das empresas participantes. A performance das operadoras nos anos seguintes revelou um padrão claro — aquelas que compreenderam e se anteciparam ao ambiente regulatório prosperaram; as que negligenciaram essa dimensão estratégica enfrentaram entraves técnicos, jurídicos e econômicos severos.

A Vivo foi o caso exemplar de preparo institucional. Ao investir R$ 1,05 bilhão, arrematou 46% da faixa de 3,5 GHz — considerada a espinha dorsal da conectividade 5G, por permitir velocidades superiores e baixa latência. Mas o que garantiu sua vantagem não foi o montante financeiro, e sim sua atuação proativa no campo regulatório e jurídico. A empresa adotou uma abordagem baseada em três pilares: antecipação normativa, articulação institucional e conformidade estrutural.

Desde o início, a Vivo demonstrou domínio técnico do edital. O documento previa que operadoras que cumprissem antecipadamente suas obrigações de cobertura, densidade de antenas e qualidade de rede poderiam liberar mais cedo os recursos de garantia. A Vivo não apenas cumpriu essas metas antes do prazo, como também estruturou sua operação para manter diálogo contínuo com a Anatel e outros órgãos decisórios. Participou ativamente do GAISPI (Grupo de Acompanhamento da Implantação das Soluções para os Problemas de Interferência), responsável por coordenar a ativação do 5G em cada município brasileiro, e da EAF (Entidade Administradora da Faixa), que operacionaliza medidas para garantir que o 5G não interfira em serviços legados. Essas posições permitiram à Vivo não apenas acompanhar, mas influenciar decisões técnicas e acelerar a liberação do sinal em diversas regiões.

Adicionalmente, a empresa mantém desde 2016 um Centro de Privacidade voltado à governança de dados, antecipando a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) em 2020. Essa medida demonstra que a conformidade legal, para a Vivo, é elemento central da sua governança corporativa — e não apenas uma reação a obrigações exógenas. O resultado dessa combinação de fatores foi evidente: em 2024, a Vivo registrou velocidade média de 365,1 Mbps no 5G, tornando-se líder nacional em desempenho e em número de acessos à nova tecnologia, com mais de 11 milhões de clientes ativos, segundo relatório da Opensignal.

O cenário contrastante é ilustrado pelo caso da Winity. A empresa arrematou a faixa de 700 MHz por R$ 1,4 bilhão, com a responsabilidade de conectar 35 mil km de rodovias e 625 localidades remotas. Seu modelo de negócios, entretanto, dependia exclusivamente de contratos de aluguel de infraestrutura com operadoras maiores — como a própria Vivo. Esse modelo foi inviabilizado por restrições impostas pela Anatel no próprio edital, que buscava preservar a concorrência e evitar práticas de concentração de mercado. A Winity não simulou cenários de veto, tampouco realizou interlocução prévia com o órgão regulador, nem estruturou uma alternativa jurídica para lidar com as restrições. Em 2023, a empresa desistiu da licença, perdendo o valor integral do investimento.

Esse contraste deixa evidente que, em setores regulados, cumprir normas é apenas o ponto de partida. Empresas que se destacam são aquelas que entendem a regulação como um componente estratégico do negócio. Antecipar-se a marcos legais, construir relações institucionais sólidas e atuar na modelagem das normas são fatores que determinam quem lidera e quem fracassa.

No Brasil, o sinal 5G só pode ser ativado em uma cidade após a liberação oficial da Anatel, que exige o cumprimento de exigências técnicas, legais e regulatórias. Empresas que não preveem esses requisitos ficam impedidas de operar, mesmo com a infraestrutura instalada. O custo dessa negligência é alto: perda de tempo de mercado, sanções contratuais e reputacionais, e prejuízos financeiros diretos. A Vivo compreendeu isso desde o início e, por isso, moldou sua atuação de modo a não apenas cumprir as normas, mas garantir vantagem competitiva a partir delas.

A lição é clara: em mercados regulados, entender e antecipar o regulatório é sinônimo de liderança. O caso da Vivo comprova que inteligência regulatória não é apenas uma defesa contra riscos — é uma alavanca de crescimento e consolidação de mercado.

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