Compliance como pilar de valor: a transformação institucional da Petrobras

Compliance como pilar de valor: a transformação institucional da Petrobras

A liderança da Petrobras no setor de energia vai muito além da sua escala produtiva. Ao longo da última década, a companhia construiu uma trajetória institucional que a reposicionou como referência internacional em governança corporativa, transformando o compliance em um verdadeiro pilar estratégico. Em vez de uma resposta pontual à crise que a abalou em 2014, a estatal adotou uma abordagem sistêmica e preventiva, ancorada em estruturas sólidas, controles internos robustos e cultura organizacional voltada à integridade.

No auge da Operação Lava Jato, a Petrobras criou uma diretoria específica para governança e conformidade, conferindo autonomia e autoridade ao tema. A nova estrutura fortaleceu os mecanismos de controle, estabeleceu canais protegidos de denúncia, adotou treinamentos obrigatórios e institucionalizou due diligences rigorosas. Mais importante: a governança deixou de ser um apêndice e passou a integrar o processo decisório em todos os níveis, com a auditoria interna reportando diretamente ao conselho de administração e cada área sendo corresponsável pela gestão de seus próprios riscos.

Hoje, a Petrobras não espera que a regulação se materialize para agir — ela antecipa exigências. Um exemplo notável foi a aplicação voluntária da Resolução nº 880/2022 da Agência Nacional do Petróleo (ANP), antes mesmo de sua obrigatoriedade. Essa postura proativa também se estende aos bastidores regulatórios, onde a estatal participa ativamente da construção normativa do setor.

Essa transformação ganha ainda mais relevância diante dos compromissos financeiros do atual ciclo de investimento. O Plano Estratégico 2023–2027 (PE 2023–27) prevê quase 100 bilhões de dólares em projetos, sendo 78 bilhões de dólares em CAPEX e aproximadamente 20 bilhões em novos afretamentos de plataformas. Desse total, 64 bilhões de dólares serão destinados à exploração e produção, principalmente no pré-sal, área vital para geração de caixa futura. Além disso, 4,4 bilhões de dólares serão direcionados a iniciativas de baixo carbono, sendo 3,7 bilhões dedicados à descarbonização operacional.

Para viabilizar esse volume de investimentos, o acesso a crédito com spreads competitivos é essencial. Estudos econômicos confirmam que melhorias na percepção de risco — como upgrades de rating de crédito — reduzem significativamente o custo da dívida. De acordo com o IMF Working Paper 11/44, a obtenção do grau de investimento pode reduzir os spreads em até 70 pontos-base. Para uma empresa com aproximadamente 60 bilhões de dólares em dívida, isso representa uma economia anual de cerca de 420 milhões de dólares. Estimativas semelhantes são corroboradas por publicações como a BIS Quarterly Review e o IMF WP 02/150, que mostram efeitos de compressão de spreads entre 14% e 36% para emissores de mercados emergentes.

Essa redução no custo de capital não apenas melhora o valuation de projetos como também aumenta a atratividade dos títulos da empresa no mercado secundário. Um corte de 70 pontos-base nos bonds da Petrobras com vencimento em 2033, por exemplo, poderia gerar valorização de até 4%, atraindo uma base mais ampla de investidores institucionais.

Em um cenário global em que responsabilidade socioambiental, estabilidade institucional e transparência são pré-requisitos para atrair capital, a Petrobras demonstra que o fortalecimento da governança corporativa é um ativo estratégico. Trata-se de uma cultura consolidada — e não de uma resposta reativa. E, como mostram os números, essa cultura tem gerado valor tangível, tanto para investidores quanto para a sociedade.

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